OMS declara pandemia mundial de coronavírus

Virologista da FAMINAS-BH explica o que muda e reforça importância da prevenção


Em 12/03/2020 às 16h47

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, nesta quarta-feira (11/03), que há uma pandemia do novo coronavírus em escala mundial. O objetivo é alertar as autoridades do mundo todo sobre riscos de contaminação em massa e saturação dos sistemas de saúde.
A reportagem da FAMINAS-BH entrevistou a VIROLOGISTA THALITA ARANTES, biomédica, pesquisadora, doutora em Virologia e professora da faculdade, para entender o significado dessa declaração, quais os riscos para o Brasil e como cada um de nós deve se preparar.
Desde 31 de dezembro, quando a China informou a OMS que um vírus até então desconhecido estava se espalhando pelo país, ele já chegou a 114 países. Segundo o último boletim da organização, foram registrados mais de 118 mil casos e 4.291 mortes. No Brasil, já são mais de 70 casos confirmados.
A especialista em vírus ressalta que o mais importante é focar nos cuidados para evitar a transmissão do vírus. "Não se deve entrar em pânico e nem ir a hospitais e postos de saúde se apresentar qualquer sintoma. E é preciso intensificar os cuidados com a prevenção, lavar sempre as mãos e o rosto; usar álcool em gel sempre; ao tossir e espirrar é recomendado cobrir a boca usando o ombro ou os braços; evitar aglomerações", recomenda Thalita. Outro alerta se refere ao perigo da automedicação muitas vezes propagada por fake news.
Segundo ela, a partir dessa declaração da OMS, a mudança imediata será o fim da burocracia na entrada de remédios atualmente parados na alfândega. "A partir de agora, todos os países estão em situação semelhante e não haverá mais preocupação extrema com a importação do vírus, pois ele está praticamente presente em todo o mundo. Todas as pessoas passam a ser tratadas como possíveis contaminadas, não haverá mais uma busca individualizada", explica Thalita, que afirma que nenhum sistema de saúde está totalmente preparado para uma pandemia.

 

FAMINAS-BH - Com essa medida da OMS, o presidente, governadores e prefeitos podem vetar eventos com aglomerações de pessoas, como por exemplo shows e jogos de futebol?
Thalita Arantes - Assim que o número de casos aumentar aqui no Brasil, medidas como essas devem ser tomadas, como vêm ocorrendo em outros países. Jogos de futebol na Itália e na França já estão acontecendo de portões fechados. Nos Estados Unidos, um congresso de cardiologia foi suspenso, depois de 69 anos consecutivos, por causa do coronavírus.

 FAMINAS-BH - Essa pandemia pode ser maior que as últimas? Estamos mais preparados hoje para enfrentar uma pandemia?
 Thalita Arantes - É difícil de prever o comportamento de um vírus pela sua capacidade de mutação com o passar do tempo e pelas condições do ambiente em que ele está. O que se sabe é que o coronavírus não tem uma alta taxa de mortalidade, algo em torno de 2%. O mais provável é que o COVID-19 passe por nós como uma gripe forte. O que não sabemos é se o vírus continuará fazendo parte do nosso grupo de doenças, como o H3N2, responsável pela pandemia em 1968 e o H1N1, em 2009. Nenhum sistema de saúde está preparado para enfrentar uma pandemia. Estamos preparados para enfrentar as demandas de rotina. Numa situação como essa, a estratégia é minimizar os problemas.

 
FAMINAS-BH - O que podemos fazer para evitar mortes e superlotação de hospitais?
Thalita Arantes - O Ministério da Saúde já sinalizou que deve aumentar de 1,5 mil para 6,7 mil o número de postos de saúde com horário estendido no Brasil. Vai chegar um momento em que não será necessário fazer exames para coronavírus, pois não haverá medidas especiais a serem tomadas. Estaremos mais envolvidos em avaliar a gravidade dos pacientes e encaminhar os casos sérios para tratamento. Mesmo com todas essas medidas, os hospitais privados vão sentir a sobrecarga e vão registrar filas extensas e, na sua maioria, desnecessárias. Os idosos devem ter prioridade nos atendimentos, porque são os mais gravemente atingidos pelo vírus. Aqueles que têm um ou dois sintomas, não precisam ir ao hospital, a não ser que o quadro evolua para uma dificuldade de respirar. Se cuidar em casa e não se expor a mais riscos de contaminação em hospitais é o mais recomendado neste momento.

 

FAMINAS-BH - O que é uma pandemia? Qual a diferença para uma epidemia e uma endemia?
Thalita Arantes - O termo pandemia é usado para descrever uma situação em que uma doença infecciosa ameaça muitas pessoas ao redor do mundo simultaneamente. Elas são mais prováveis de ocorrer com o surgimento e a descoberta de novos vírus. Como não temos defesas naturais contra eles, nem medicamentos ou vacinas para evitá-los ou eliminá-los, eles se espalham com rapidez. O vírus influenza H1N1, que causou a pandemia da gripe suína, em 2009, é o exemplo mais recente que temos. Especialistas acreditam que ele tenha infectado milhões de pessoas e matado centenas de milhares.
Já a infecção endêmica está presente em uma área permanentemente, o tempo todo, durante anos e anos. A varicela ou a malária, que tem casos registrados em muitos países todos os anos, são exemplos de endemia. Por sua vez, uma epidemia é um aumento nos casos, seguido por um pico e depois uma diminuição e é exatamente o que ocorre nos países onde as epidemias de gripe são registradas todos os anos: no outono e no inverno os casos aumentam, o máximo de infecções é atingido e depois diminui.

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